segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

Urucubaca


Estava assistindo a uma pregação de um clérigo num desses canais religiosos. Pessoa, aliás, que dentre os muitos religiosos que não me dessem garganta abaixo, tinha seu lugar dentro do pouco saco que tenho para beatices, pois ele me parecia uma pessoa coerente e sensata, principalmente. Vale ressaltar que minhas conjugações no passado não se devem ao fato de, porventura, eu ficar contrariada com o dito padre, mas sim, por ele já não estar mais em vida entre nós. Sim, ele faleceu há 3 anos.

Pois bem, voltemos ao reverendo. Segundo ele, existe um plano maligno que visa destruir umas das coisas mais sagradas que existem: a família. E aí está a TV com suas novelas, programas, “principalmente os humorísticos!” – como ressalta. É sabido que a mídia, a comunicação, de uma forma geral, manipula o pensamento da sociedade. Isso já foi dito, rebatido, discutido inúmeras vezes e se faz desnecessário ser repetitiva. Então, se eu entendi bem o que o clérigo pronunciava de forma descontraída, a família deveria evitar esse tipo de “divertimento”, além de liberdade, pois seria esse o grande e explícito plano maligno, como uma urucubaca, e “encardido”, como gostava de falar com seu sotaque interiorano. O que me deixa até indigesta, é começar a enxergar que esse pensamento a que chamamos de retrógrado seja mais contemporâneo do que idealizamos. É isso que estão pregando nas igrejas a fora? A falta de conhecimento? Por que seria, então, maléfico?

Não concordo. Sou de acordo, sim, com o acesso à todo tipo de informação que cada ser humano achar devido. Sou a favor do livre arbítrio onde podemos conhecer tudo, e a decisão de assimilar esse ou aquele aprendizado à nossa vida, não cabe a ninguém mais, se não a nós mesmos. Me lembra muito o filme O Nome da Rosa, baseado em romance homônimo do autor Umberto Eco, onde a sabedoria (representada por uma gigantesca biblioteca) era reservado a um minúsculo número de favorecidos, o que colocava o resto da população num estado de cegueira de conhecimento.

Frustração. Essa palavra define bem minha situação em relação às expectativas que deposito na tal mudança da Igreja Católica. Apesar de tudo o que ela cometeu no passado, acredito (ou acreditava?) que está em um momento a que podemos chamar de “remissão dos pecados”, onde, a partir de uma reforma interna, pedem desculpas à humanidade, pelas incontáveis atrocidades cometidas anteriormente. Mas se esse pensamento, exposto por um dos maiores pregadores que o Brasil já teve, descreve o pensamento de sua Igreja, me recuso. Abdico de crer em algo que diz que não devemos conhecer. É como disse o sábio Da Vince: "Aprender é a única coisa de que a mente nunca se cansa, nunca tem medo e nunca se arrepende."

Dessa forma, só posso concluir que fica dificílimo saber precisamente qual é o plano maligno.

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