quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Duplipensar

Já leram 1984? Eu comecei a leitura, mas para variar, não concluí. Mas, o que quero saber, ao fazer essa pergunta, é se sabem algo à respeito do ‘duplipensar’. George Orwell – autor de do livro 1984 - criou essa palavra para exprimir algo que, embora pareça impiedoso aos nossos olhos, e dissimulado para quem pratica, é algo que fazemos incontáveis vezes em nossa vida, na maioria, inconscientemente.

Para exemplificar melhor, eu colocarei aqui a definição de duplipensar por Orwell:

"Saber e não saber, ter consciência de completa veracidade ao exprimir mentiras cuidadosamente arquitetadas, defender simultaneamente duas opiniões opostas, sabendo-as contraditórias e ainda assim acreditando em ambas; usar a lógica contra a lógica, repudiar a moralidade em nome da moralidade, crer na impossibilidade da Democracia e que o Partido era o guardião da Democracia; esquecer tudo quanto fosse necessário esquecer, trazê-lo à memória prontamente no momento preciso, e depois torná-lo a esquecer; e acima de tudo, aplicar o próprio processo ao processo. Essa era a sutileza derradeira: induzir conscientemente a inconsciência, e então, tornar-se inconsciente do ato de hipnose que se acabava de realizar. Até para compreender a palavra "duplipensar" era necessário usar o duplipensar."


É um tanto complexo para minha mente, mas sua essência é intuitivamente perceptível, e gostaria de dividir isso.

Muitas vezes temos que “duplipensar” devido às necessidades inerentes do dia a dia. A cada vez que chegamos ao nosso trabalho e temos que sorrir e agir como se nada tivesse acontecido, tendo na noite anterior acontecido algo do grande leque de coisas desagradáveis que podem acontecer. Ou quando temos que estudar para alguma prova, mesmo com um lado nosso dizendo que você devia pensar mais em si; ou quando temos que sorrir – ou chorar - para nossos pais para lhes afastar alguma verdade que achamos que “eles não precisam ficar sabendo”.

Enfim, a gama de ocasiões em que nos é possível utilizar o duplipensar é imensa. A todo segundo estamos duplipensando, duplipensando, duplipensando e duplipensando. Enfim, é algo que já faz parte de nós, e talvez nunca tenhamos atentado para isso.

Aplico essa atitude muitas vezes na minha vida, e sinceramente, não sei dizer se isso é bom ou ruim. Digo isso pelo simples motivo de ter o que alguns chamam de “queda de olho” para certas coisas. Explico: muitas vezes eu consigo destrinchar pessoas, saber, intuitivamente qual a conduta e o caráter de algumas. Não estou querendo dizer que sou adivinha, mas sim intuitiva. Os que me conhecem mais intimamente sabem bem do que estou falando. Mas, isso não necessariamente é algo bom. É algo complicado de lidar, e talvez por isso eu me afaste tanto das pessoas.

Tenho um medo desmedido de descobrir coisas daquelas pessoas a quem me afeiçôo. É algo que as pessoas chamam de “não abrir os olhos para a realidade”. Nada irá justificar, mas não é fácil saber na maioria das vezes quem é quem.
Aquele amor louco, aquele encantamento novo... Tudo isso, eu só poderia viver caso fechasse os olhos. E é o que faço muitas vezes: em nome de viver a louca paixão, fecho os olhos e me deixo levar pelo lado “Amana sem juízo”.

A Amana de verdade sabe muito bem dos dois lados da moeda. Sabe tudo o que tem que fazer para conseguir aquilo que quer. A Amana aqui sempre teve quase tudo o que quis, aliando sorte à intuição.

E isso, como já disse, nem sempre é bom. É a verdade, mas quem disse que a ela [a verdade] é sempre agradável?

"Duplipensar é a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias, e aceitá-las ambas."

(16 de fevereiro de 2009)

7 comentários:

  1. Bom, Orwell provavelmente se referia à dissimulação que iria predominar em um mundo dominado pelo modelo socialista. Afinal, o periodo em que Orwell viveu abria espaço para diversas outras opinião acerca do que era o capitalismo e o que era o socialismo e ele abominava as duas formas. Os líderes socialistas defendiam ideias e principios que eles proprios não cumpriam, apenas para alienar a população através do controle estatal. Duplipensar.

    Mas é sempre válido e interessante quando conseguirmos trazer de determinados conceitos, explicações para o nosso dia-a-dia. Muito bem :]

    p.s. e devolva o livro, infeliz ¬¬' :*

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  2. Vale salientar a data. Hoje em dia, eu não escreveria a mesma coisa sobre o suplipensar. Talvez eu nem escrevesse sobre ele.

    Ps.: Eu não devolvi não!?
    Pp.: Infeliz, é? ¬¬ Não devolvo mesmo.

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  3. correção: *conseguimos.

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  4. Eu não li o livro mas vi o filme.Achei fantástico, essa guerra ao controle do pensamento.
    Duplipensar...a descrição que ele faz dá voltas na cabeça.
    Duplipensar...
    fica a dúvida.

    :)

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  5. AMIGA...
    ADOREI A ULTIMA FRASE...

    ADORO SUAS POSTAGENS.

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  6. Olá Amana, eu não creio que a tua visão se enquadre no "duplipensar", mas antes numa "Dissonância Cognitiva", que é o oposto.

    Duplipensar requer a não existência de conflito de consciência ;)

    "Duplipensar é a capacidade de guardar simultaneamente na cabeça duas crenças contraditórias, e aceitá-las ambas."

    O Livro tem vários exemplos, como por exemplo o Ministério da Paz, que trata dos assuntos ligados à guerra, ou o Ministério da Verdade, responsável por manipular a informação. Outro exemplo mais disseminado, é a luta contra a violência recorrendo à violência. Exemplo disso? Por exemplo, as guerras preventivas dos EUA em nome do combate ao terrorismo ;)

    Odiar quem odeia é em si um "Duplipensar"

    O objectivo desta estratégia é atenuar o mais possível as incoerências e diferenças entre as ideias abrangidas pelo "duplipensar". Não existe fechar de olhos ao "outro ponto de vista", mas sim a sua ligação como se não fossem contraditórios ;)

    O "duplipensar" infelizmente está longe de ser apenas ficção. É utilizado corriqueiramente, principalmente pelas classes governantes. Uma maneira elementar de aplicar o "duplipensar" é atribuir a algo um nome que expressa o contrário daquilo que essa coisa pretende efectuar ou representar.

    Não sei se a sua ideia implícita, na resposta ao Diego de Oliveira, significa que estou neste momento a "chover no molhado". No entanto, espero que fique a minha intenção de querer ajudar ;)

    cumps

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  7. Interessante esta teoria... Quem assiste (ou lê, principalmente) Dexter, vai perceber as diversas referências da série (tanto de TV quanto de livros) ao fato de "duplipensar". Parabéns pelo post

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