Hoje faz quinze dias que minha mochila coberta de desenhos japoneses está desamparada num canto qualquer ao lado da minha cama. Dentro dela constam objetos pelos quais nutro certo pavor de trazê-los à luz do dia. E por esse motivo que, aqui do lado de fora, torço para que o medo vá embora, e eu possa, por fim, esvaziá-la e trazê-la de volta ao seu habitual uso.
Ok, talvez pareça um pouco de exagero, mas o fato é que ela está lá, abandonada, e em nenhum momento eu me perguntei por que simplesmente rompi com a pobre coitada que pouquíssimo tempo antes era meu xodó. Com exceção de hoje.
Hoje faz quinze dias que reuni tudo o que fosse sólido que pudesse me fazer lembrar de algo que, inutilmente, eu finjo que quero esquecer, pus numa caixa, e num pranto calado, juntei uma carta e cessei provisoriamente aquele melancólico e isolado fim.
Dia seguinte, fui de encontro ao destinatário daquela pesada caixa cheia de boas lembranças. Sob um sol quente das 10 horas da manhã de um domingo triste, caminhei quase sem forças com as lágrimas escorrendo sob a face e os braços dormentes pelo peso.
Conversei horas com a mãe que, por vezes é igual, e outras, é tão diferente daquele filho. Fiz-me entender que tinha consciência de que o erro, naquela ocasião não era meu e, assentindo ela comigo, tive certeza que eu não estaria só.
Numa tentativa de talvez reproduzir aquele ato de desfazimento, entregue pelas mãos daquela mãe, tive de volta um livro, um porta-retratos e um cartão nominal. Guardei os objetos na bolsa em questão e, chegando em casa, nunca mais a usei ou tive coragem de tirá-los de lá.
Meu irmão menor, buscando pelas Aventuras de Alice no País das maravilhas, acabou por encontrar o livro na bolsa desolada ao lado da cama. Eu, que não vou me negar a sacar meu suado salário, tive de pegar o cartão. O porta-retratos não. Ele ainda está lá dentro com aquele registro em papel de um momento feliz.
Obviamente esse pavor logo passa, e quem sabe, aquela mochila volta a ser útil.
segunda-feira, 31 de maio de 2010
terça-feira, 25 de maio de 2010
Se tudo é tão ruim, por onde eu devo ir?
O tempo parece que nunca para. Aliás, ele não para. Mas ultimamente o tempo tem sido uma correria desenfreada. Sou menina de calmaria, de paz, de segurança.
Também tenho andado abismada com o ser humano. Desenvolvi por nossa espécie um olhar fascinado por muitas coisas, principalmente pelas particularidades de cada um. Conseguia me apaixonar por técnicas, palavras, defeitos, carisma e personalidade.
Hoje sinto um enorme desgosto. Como prezo muito por bons valores como honestidade, respeito e compromisso, tenho uma séria dificuldade em assimilar mentiras, ou atitudes que contrariem esses valores.
Tenho muito o que aprender ainda.
Eu cansei de ser assim
"Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou
Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem
Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou"
O pouco que sobrou - Los Hermanos
Também tenho andado abismada com o ser humano. Desenvolvi por nossa espécie um olhar fascinado por muitas coisas, principalmente pelas particularidades de cada um. Conseguia me apaixonar por técnicas, palavras, defeitos, carisma e personalidade.
Hoje sinto um enorme desgosto. Como prezo muito por bons valores como honestidade, respeito e compromisso, tenho uma séria dificuldade em assimilar mentiras, ou atitudes que contrariem esses valores.
Tenho muito o que aprender ainda.
"Não posso mais levar
Se tudo é tão ruim
Por onde eu devo ir?
A vida vai seguir
Ninguém vai reparar
Aqui neste lugar
Eu acho que acabou
Mas vou cantar
Pra não cair
Fingindo ser alguém
Que vive assim de bem
Eu não sei por onde foi
Só resta eu me entregar
Cansei de procurar
O pouco que sobrou
Eu tinha algum amor
Eu era bem melhor
Mas tudo deu um nó
E a vida se perdeu
Se existe Deus em agonia
Manda essa cavalaria
Que hoje a fé
Me abandonou"
O pouco que sobrou - Los Hermanos
domingo, 23 de maio de 2010
E aí?
E essa voracidade com que se agarra ao triste usando-o como escudo? E essa forma absurda de enxergar o mundo quando a realidade não é tão cruel? E essa rispidez que trata os que lhe querem bem?
Talvez dessa forma, tudo o que vai conseguir será uma vida fria e angustiante. Talvez o amor só apareça para quem quer enxergá-lo.
Talvez dessa forma, tudo o que vai conseguir será uma vida fria e angustiante. Talvez o amor só apareça para quem quer enxergá-lo.
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