segunda-feira, 26 de abril de 2010

Saia Justa

Quando se precisa ganhar espaço no ramo em que você pretende se inserir, muitas vezes é preciso admitir certas situações que, sob circunstâncias normais, você não admitiria. Ou, por outro ângulo, têm-se a oportunidade de conhecer – e até experimentar! - determinadas culturas.

Sábado pela manhã, preparo a mala para a viagem. Acomodo o vestido de festa em algum lugar dentro da mochila. O sol de “rachar” me avisava pela janela que é melhor eu vestir algo que me deixasse mais à vontade, afinal, eu não ia querer estar desconfortável dentro de um ônibus numa viagem de 2 horas.

Óculos de sol, camiseta, short e chinelos.

Encontro com o resto do pessoal, e partimos com os equipamentos para o local marcado. Ao chegar, ouço da minha amiga: “Amana, você reparou a forma como todas as meninas estão vestidas aqui?” Pimba! Estavam todas de vestidos ou saias abaixo do joelho.

A coordenadora da excursão rumo ao casamento em Recife, com quem estávamos contatando, logo veio em nossa direção, e façam suas apostas na primeira coisa que ela observou!

Falou com minha amiga, mas eu estava ao longe conversando com o noivo dela, em seguida, veio em minha direção: “Oi, não tinha como você pôr uma saia, ou um vestido?”, eu constrangidíssima, falo a verdade: “Bom... Não. Só trouxe o vestido da festa, mas não vou usá-lo agora.”, ela prossegue: “É que são as regras da escola e também têm muitos homens aqui. Vou conseguir uma emprestada para você usar.” Ela, então, falou com uma das seminaristas, que me levou até o dormitório, e me cedeu uma saia.

Eu segurei as lágrimas. Senti-me discriminada, como se por usar shorts, eu fosse alguém menos digna ou uma ameaça aos garotos de lá. Fui apenas para cumprir o papel para o qual fui designada: fotografar o casamento.

Acomodamo-nos em nossas predeterminadas poltronas (13 e 14), e novamente minha sábia amiga observa: “Já notou como as pessoas estão dispostas dentro do ônibus?”. E só então noto que os homens estão todos sentados na primeira metade e as mulheres no fundo. O noivo da minha amiga estava sentado sozinho na primeira poltrona, e imaginem que ele, já furioso com o episódio da saia, ainda teve de passar um par de horas sentado sozinho.

Fiquei chocada, pois achei o olhar tão maldoso para com todos. Como se por vestir um short, ou sentar perto de uma pessoa do sexo oposto, fosse um desrespeito a quem (ou “o que”) quer que seja.

Não cabe a mim discutir aqui qualquer coisa sobre religião, aliás, não tiro a razão da senhora que, educadamente, solicitou-me a adequação ao modo de vestir da escola, mas posso expor o quanto me senti diminuída perante todos ali e como, cada dia que passa, discordo cada vez mais do apego exacerbado à certos padrões.

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